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Áustria

Saudações itinerantes 

O país da música clássica, óperas, anfiteatros, concertos… que vos vem à cabeça? Áustria claro. Embora não seja o local onde nasceram propriamente os compositores, é um país com elevadíssimas influências da música clássica. Não foi por isto que viemos, mas é uma primeira abordagem óbvia ao país. 

Pessoas não muito simpáticas (ao nível dos sorrisos e calor humano), pessoas que gostam de aproveitar o sol, os seus magníficos jardins e espaços exteriores. Um país desenvolvido, com as características inerentes a este posicionamento: segurança, civismo, limpeza, etc 


Dia 1 
No 1º dia iríamos visitar Viena. Uma cidade que quando chega o final da tarde, se veste de smoking e lantejoulas, para ir ver óperas e orquestras! Há imensos locais com concertos, uns mais caros outros nem por isso. Qualquer átrio com algum eco serve para um concerto (exagerando…). 
A cidade em si, sinceramente, não tem nenhuma magia como outras capitais. É um paraíso para quem gosta de museus; mas não tem um monumento postal ou um check list turístico… Apreciem os vários jardins e a bonita arquitetura dos vários edifícios, históricos ou não. 
Ia preparado com moedas no bolso para os artistas de rua, mas contrariamente ao que seria expectável, não se encontravam com a regularidade que uma cidade musical como esta prometia. 



Dia 2
Dois dos palácios que valem a pena visitar e que ficam fora de portas é o Belvedere Palace. É um… palácio, mas!, tem um fantástico jardim onde podemos passear, descansar, relaxar. Dentro do palácio acontecem, creio que quase todos os dias, concertos de música clássica, num salão muito rococó e muito dado a este tipo de concertos; e portanto será algo que vale a pena ouvir caso tenham esse tempo na agenda.



Palácio seguinte, Schonbrunn. No dia em que o visitámos, havia um mega concerto a ser preparado neste espaço. Claro que a poluição visual era enorme (palco, colunas, cabos, empilhadores, staff, etc). Mas o espaço é tão agradável que mesmo que fosse o festival do Panda, valeria a pena ter assistido ao concerto. Ainda assim, e uma vez mais, o jardim afeto ao palácio é incrível, é enorme, tem fontes, tem sombra, tem relva, tem árvores. Optámos por não visitar o interior, que sendo um palácio teria por certo muita alcatifa bolorenta e uma mostra de louças de casa de banho que posso também ver e usar na casa dos meus bisavós.

Agora sim, a parte gira: a viagem para Hallstatt. É uma viagem que por si só vale a pena. Se for de mota então… A estrada nacional estende-se ao longo do rio Danúbio, e por paisagens verdes, coloridas por flores de várias cores. Sem fábricas feias, ou bairros manhosos. Tem sempre uma vista agradável, bonita, em que dá vontade de ir com a capota baixa, e ouvir uma playlist de road trip. (nós tínhamos um focus citadino, e sujeito à playlist do estação de rádio que apanhávamos). Parem um pouco na região de Washau onde podem dar um mergulho no rio, se tiverem coragem. Parem também em Krems, uma vilazinha muito pitoresca, onde devem deambular pelas ruas estreitas, e onde devem comer um Strudel na única pastelaria que há lá.
Ainda fizemos uma paragem por Melk para visitar a Abadia e os bonitos jardins.



De tão engraçada que é a viagem, perdemos a noção do tempo, e não fosse a disponibilidade da senhora do hotel, tínhamos ficado a dormir no carro… 

Dia 3
Felizmente, e num golpe de destino, não ficámos alojados em Hallstatt. Ficámos em Obertraun. E isso foi fantástico porque é muito mais calmo que Hallstatt, porque é mais pitoresco e mais familiar, e porque sim, porque gostámos mais do ambiente descontraído, espaçoso e acolhedor que tinha. Antes de nos aventurarmos nestas localizações, decidimos começar o dia de imediato com a subida por funicular (a única forma razoável de ir ao topo da montanha). Na subida, o funicular pára numa estação em que vão visitar as grutas de gelo Dachstein Giant Ice Caves... aviso que se forem no verão, e portanto, de calções e t-shirts, convém terem algo quente na mochila pois as grutas de gelo, têm de facto…gelo. E portanto, funciona como um grande frigorifico, onde vocês são as salsichas.




Subindo mais uma etapa, vamos ter a um ambiente de serra da estrela. Neve, estância de ski, etc. claro que estando quente, o trekking foi um pouco esquizofrénico, com calção e t-shirt, a caminhar pela neve. Tem lá uma construção metálica, meia estranha de um tubarão. Onde podem entrar (sim, entram para dentro da barriga do tubarão, e podem contemplar, da boca do tubarão, uma vista superior do sistema montanhoso. Porque é que existe uma escultura de um tubarão, no cimo da montanha, com neve? Porque é que nas aterragens, as pessoas, tiram os cintos antes do aviso apagar? Simplesmente há coisas estúpidas e que não se sabem explicar. Mas bem melhor que o tubarão, é a plataforma 5 fingers. São na verdade 5 plataformas (ah! Daí o nome…) em vidro, que se estendem para que o viajante possa sentir um arrepio de origem vertiginoso olhando para o precipício abaixo dele. Há mais trilhos a saírem aqui do topo, mas não tínhamos tempo para eles. E ainda assim quando chegámos à base da montanha já o dia se tinha passado. 



Restava o final da tarde, e fomos procurar a nova fase da viagem: aluguer de bicicletas. Há 3 ou 4 locais em Obertraun para alugar bikes, mas escolhemos a melhor Apartamentos Simmer. Um senhor simpático que nos deixou levar a bicicleta de imediato. É a melhor escolha que podem fazer. Evitam o trânsito e a óbvia falta de estacionamento de Hallstatt, e aproveitam de forma incrível as paisagens que estas terrinhas vos oferecem. Foi assim que encontrámos aquilo que parece ser uma praia fluvial. Muito tranquila, muito aprazível, com o lago e montanhas como pano de fundo, como se se tratasse da Música no Coração.



Dia 4
Foi este o dia em que fomos de facto visitar Hallstatt. Partimos de bicicleta num percurso por estrada, com uma vista permanente do lago e das bonitas casas que ladeiam as bermas. Embora sejam ainda 4km de distância, estejam ou não em forma, é um percurso que se faz bem.



Encostámos a bicicleta e explorámos a cidade a pé (até porque há tanta gente, nomeadamente chineses, que se torna difícil a circulação). O engraçado é que há de facto pessoas a viver aqui, e que têm que lidar com a constante presença, barulho e confusão provocada pelo turismo. As praças, as ruas, as casas, as flores, parece tudo saído de um filme romântico! Ao fim de tentarmos passar por todas as ruas, fomos até ao parque 2, onde se encontra um funicular que parte para a zona alta da cidade, que nos presenteia com uma vista do lago e onde podemos comprovar a diminuta dimensão de Hallstatt e do engraçado que é a forma como este vilarejo se colocou à beirinha da água, protegida atrás pela montanha.



Não fomos no funicular, ao invés tomámos a, aparente estúpida, opção de ir a pé. É muito cansativo e sempre a subir, mas o funicular também não é a coisa mais engraçada de se fazer. E a pé conseguimos chegar a zonas intermediárias onde podemos ver a cascata que mergulha sobre a vila, e passamos à frente da mina que outrora foi usada nesta aldeia. E assim ficamos a perceber como surgiu este local e as suas origens. Por fim, ao chegar ao topo, temos uma plataforma triangular, ao estilo 5 fingers, onde desfrutamos da vista ao estilo mais vertiginoso.




Fizemos a descida e fomos descansar para um local engraçado. Voltámos a pegar nas bicicletas, e a partir do parque 2, iniciámos um dos vários percursos pedestres que partem desta zona. Sendo um percurso, pedestre, significa que fazê-lo de bicicleta pode apresentar obstáculos que seriam bem mais fáceis de transpor sem termos duas rodas… chegámos a um ponto em que encostámos os veículos e fomos a pé; para visitar uma grande cascata, da qual não nos lembramos do nome, mas ele aparece nas placas do percurso.

Queríamos ter forças e tempo para fazer outros percursos, mas tínhamos que voltar para ver o Ossário de St Michael Church. É uma pequeníssima garagem, que tem horário de visita, com os ossos e caveiras pintadas de antigos residentes hallstatianos. Tem uma história engraçada associada e o bilhete é tão simbólico que não há razão para não visitar isto. Também interessante é o cemitério no local, diferente do que estamos habituados, e sem a formalidade e seriedade de outros cemitérios. Tinha por exemplo, um gato que por lá anda a fazer xixi nas campas, e que encontra de forma despreocupada, locais na relva do defuntos para fazer o seu cócó. Desfrutem do resto do ambiente da cidade e comam algum doce com alperce ou mirtilos, duas frutas muito usadas na pastelaria desta zona.



Voltámos a Obertraun para darmos uma volta no percurso R2. É um trilho marcado, que se pode fazer de bicicleta e que circunda todo o lago, e é super bonito; deve ser feito. E no final sigam o mesmo trilho mas desta vez do lado da cidade e conheçam o dia a dia destes habitantes que nos deixam a indagar sobre que tipo de trabalhos e de ocupação terão, já que parecem estar todos de férias, a aproveitar os seus quintais e jardins!





Dia 5
Salzburgo, a cidade da música clássica. A primeira impressão não foi a melhor. Não tinha… feeling, não tinha aquele tcharan de outras cidades em que chegamos e sabemos que estamos perante um destino que sentimos conhecer e que nos deixa os sentidos apurados. Não sentimos isso aqui. Até chegarmos ao “centro” o resto da cidade parece demasiadamente normal… depois chegamos ao centro histórico, onde está a Catedral e uma fantástica loja de iogurte gelado! Claro que havia também obras e grades. Visitem os jardins de Mirabelle, mas não vão com expectativas elevadas.




Por outro lado, e agora sim tenho muito gosto e confiança em convidá-los a visitar Schloss Hellbrunn. Um espetacular palácio com um jardim especial. Resumindo a história: um clérigo abastado (pois está claro) mandou construir uns brinquedos e uns jogos pelo jardim para entreter os seus convidados. Jogos esses baseados em água, tanto no seu funcionamento mecânico como na interação com o público. A visita guiada é muito engraçada e é fantástico de ver como as engenhocas funcionam com o mesmo mecanismo e princípios que os idiotas de outrora inventaram! Visitem, será a melhor parte da viagem a Salzburgo.




Dia 6
Parque Gesause. É uma zona natural com imensos trilhos e natureza e floresta, e bicharada e pedras. Escolhemos um trilho extremamente complicado, que sobe ao pico da montanha e desce pelo albergue que se situa, isolado, no meio da formação geológica. Conseguimos perceber claramente que as temperaturas que se sentiam não eram normais e que naquela altura deveriam escorrer levadas de águas em certas zonas onde a morfologia denotava existir outrora um riacho ou algo parecido. São as alterações climáticas no seu melhor… à noite, quisemos ir jantar e estava tudo fechado. Só os MACs e um buffet chinês é que estavam disponíveis! É incrível como é que um centro comercial enorme, tinha portas encerradas às 20h. Esta malta sabe o que é equilíbrio pessoal/profissional. 

Dia 7
Ficámos hospedados numa vila onde não se passava nada e em que os próprios estalajadeiros não primavam pela simpatia. Sankt Gellen tem um pequenino castelo e pouco mais para visitar, ficámos mesmo porque era o alojamento mais atrativo e perto de onde queríamos andar. No dia anterior tínhamos passado por Admont (era aí que se encontrava o turismo e onde obtivemos informação dos trilhos, etc). Reparámos numa igreja engraçada e por acidente lemos em qualquer lado que existia ali uma biblioteca. Estando fechada nesse dia, decidimos então incluí-la na rota do dia seguinte. E assim fizemos; logo de manhã visitámos a dita biblioteca. O bilhete dá acesso a todo um museu, de variados temas, mas decididamente a biblioteca é o ponto a não perder. Viemos a perceber que era uma das maiores bibliotecas de mosteiro do mundo. Incrivelmente bonita, arrumada, com detalhes e pormenores de luxo. Valeu bem a pena descobrir este tesouro escondido!

A seguir Palfau Wasserloch, um retiro onde se encontram motards, caminhantes, famílias, etc. tem um trilho (pago) que vale bem a pena. É uma espécie de passadiços do Paiva, mas com várias cascatas, em crescendo. Cada uma tem a sua descrição e indicação de altura. Levem um pequeno impermeável pois o borrifo da água é suficientemente forte para vos molhar. Principalmente se não estiver um dia de muito sol! É um caminho muito engraçado (e também cansativo para os menos desportistas) de se fazer, com vistas fantásticas e algum laivo de aventura, proporcionado pelos caminhos estreitos, pontes, etc.



Áustria é portanto uma pérola ainda por descobrir. Na nossa opinião será um destino mais indicado para a natureza e aventura e não tanto para as óbvias cidades postal. Embora tenhamos feito uma rota quase mainstream, seguindo a estrada Romântica (como é designada em alguns fóruns), percebemos que existe muita Áustria por descobrir e por vivenciar. De preferência com umas sapatilhas trekking :D

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