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Galiza

Quinta dia 21 Abril
        Foi o dia da partida. A preguiça apodera-se de nós de uma forma agressiva, o que nos impede de começar as viagens à hora que se estipula no dia anterior. O que significa que temos uma vantagem: à hora de almoço ainda estávamos em Portugal e portanto comemos bem. A desvantagem é que chegámos ao hotel já tarde e portanto foi um dia que estava condenado à nascença. Ainda assim, e com um tempo espectacular para se andar a pé a visitar cidades, fomos saber o que havia em Cangas. Cangas de Morrazo convém dizer, senão podem rumar a Cangas de Narcea, e "bao dar uma ganda bolta"!

        Cangas tem um ar turístico, banhado pela marina e com várias avenidas, comércio e bonitas praias. É uma cidade pequena e não encontrará sequer um MacDonalds. O posto de turismo indicou o que de melhor havia para ver e nós seguimos a instrução. Que seria sempre melhor que a nossa, que não tínhamos… Fomos ao Cruceiro de Hío, que à primeira vista é só um pelourinho com anjos e santos, mas que se perdermos um pouco mais de tempo a tirar fotografias, ou a apreciar, vimos pormenores engraçados que contam algumas histórias.

         Há também o Cabo Home, como o próprio nome indica é um cabo com uma vista fantástica e onde podemos subir a um monte denominado Monte Facho. Este último tem igualmente uma vista engraçada sobre uma imensidão de mar e sobre aquele que seria o motivo deste passeio (as Ilhas Cíes). Neste monte ficam também situadas escavações arqueológicas.

        Ah, o nosso hotel, Hotel Airiños, era razoável. O estacionamento era…muito… Inexistente. Mas encontra-se lugar com facilidade. Pelo menos em Abril, a chover… O dono do hotel é de um profissionalismo incrível. O pequeno-almoço é muito bom. Só um empregado mais "grunho" é que poderia ter nota negativa.
        Nessa noite, como nos esquecemos de acertar os relógios, quando chegámos a Cangas percebíamos que tínhamos perdido uma das procissões da Semana Santa. Não que quiséssemos rezar a nossa novena, mas porque é a maior tradição dali, por isso e já que lá estávamos era um acontecimento a não perder. Na 6ª iria repetir e ai já teríamos os relógios certos…

Sexta dia 22 Abril
        Novamente um dia radiantemente chuvoso. Decidimos ir até Vigo. Se virem o mapa, Vigo fica pertinho de Cangas, com a particularidade de ser do outro lado da Ria de Vigo. Por isso ou andávamos de carro 40 minutos ou íamos de barco. Embora seja mais caro, sempre é mais divertido ir de barco. E assim foi.
 
        Pouco caminhámos para encontrar o turismo. E assim que saímos ficámos no meio de uma feira. Mas uma feira à antiga, com roupa contrafeita e relógios de marca. Não é uma feira à moda da ASAE, é uma feira como todas deviam ser. E para não fugirmos ao espírito também enfeirámos, com 2ª traveler a regatear uma coisa, que por si só já estava regateada no 1º preço…
        Demos então uma volta por Vigo vendo aquilo que todos vêem e que vem no guia (às vezes também é preciso seguir a rotina). O mais interessante foi uma rua por onde passámos, que testemunhava bem o degredo da civilização e ao ponto a que pode chegar um ser humano. As meretrizes estavam bem à vontade mesmo com a presença feminina. A medida que a rua se ia desenvolvendo vimos um personagem encostado à parede, barrigudo, com um pullover do tempo do rei D. João I, e com cara de poucos amigos: o chulo. Depois o que se via merecia uma foto, mas aqui o medinho decidiu não arriscar. Em pequenas salas, tipo tasco antigo, com cheiro a tinto, tabaco ressequido, toalhas plásticas com padrões de flores grandes, etc estavam as "trabalhadoras"... a pequena luz vermelha (que eu pensara ser um mito) estava bem presente. Foi um bom momento cultural.
        Visitámos o Castelo do Castro, onde se encontra um bonito jardim e um hotel medonho, abandonado. Ai consegue-se uma boa vista da cidade. Possivelmente a melhor vista da cidade.

        Neste dia em particular a cidade estava deserta e tudo estava fechado, mas deu para pessear calmamente pelas várias avenidas. Fomos a pé até ao parque da cidade, Parque Municipal Quiñones de León. Preparem-se porque se forem a pé ainda são uns minutos.
        Ainda em Vigo passámos na Praça de Espanha e ao chegar ao centro da cidade fomos espreitar o Queen Victoria que na altura se encontrava a partir do porto. O que nos deu uma vontade de ir num cruzeiro. Principalmente num cruzeiro onde houvesse sol, porque ali a chuva continuava a não nos querer deixar sozinhos.




        Voltámos a Cangas e como prometido de noite começou a procissão. Engraçado ver mascarados numa procissão. E mais bonito eram os andores que tinham de ser carregados por 10 homens. Eram de tamanho real ou maiores. Foi engraçado e permitiu tirar umas fotos interessantes. Também nos demos conta que à semelhança do nosso pão-de-ló eles têm lá uma rosca gigante, que parece saber a anis, e que é o doce típico dali.


Sábado 23 Abril
O dia da saída de carro. O destino era Santiago de Compostela. A terra dos peregrinos. Ao chegar foi precisamente o que vimos, peregrinos, uns mais sujos outros mais limpos. Uns de bicicleta outros a pé. De todas as nacionalidades. Também desejámos naquele momento termos vindo a pé, com uma mochila as costas. Ou não... Será difícil descrever o que há para ver em Santiago por duas razões. Porque as coisas são muito semelhantes entre si, sendo que a gama varia de igrejas, capelas, mosteiros, palácios, etc, e porque é tudo muito perto. Portanto o que têm a fazer é meterem-se pelas ruas fora e caminhar. A algum sítio iram dar. Obviamente que a praça central, Praza do Obradoiro, onde podemos admirar deitados toda a imponência da Catedral, é o local a não perder. A catedral está em obras em alguns sítios, mas nem por isso deixa de ser espectacular. O que não é espectacular é pagar 5€ para ver o museu, que engloba várias visitas, mas que não valem 2 magnums double de caramelo, pelo menos não para mim. Ainda se desse acesso a uns túneis que se vêem por baixo da catedral…. (estavam trancados).

        Embora tenha sido um dia cheio, e fisicamente cansativo, a quantidade de texto a escrever não é proporcional, pois como disse, muito do que se vê é semelhante entre si. E confesso que nos baldámos no conhecimento da história da cidade. O que posso adiantar mais é que se vêem muitos artistas de rua, e ouvi possivelmente o melhor guitarrista de rua. Não sei se se qualifica de pedinte, de vagabundo ou simplesmente de doido, mas o homem tocava pa caraças! Também vimos uma cena que revolta qualquer pessoa e que foi um par de drogados a tentar alcançar as moedas da fonte. A questão que se coloca é: o que acontece aos desejos das pessoas que lá deitaram a moeda? Será que passa para os drogados, será que não é realizado? E se assim for, onde está a justiça? Quer dizer, deitamos nós 20cts à fonte para que nos saia o euromilhões e aparece um drogado que nos rouba a moeda e o desejo!


Domingo 24 Abril
         Páscoa! Confesso que tive saudades de estar na terrinha a ouvir as campainhas, mas as férias não escolhem data. Este é o dia por que todos esperavam, a visita as Ilhas Cíes. É aqui que se encontra uma das praias classificadas como das melhores do mundo, a Praia de Rodas. O dia apresentava-se digno de uma ida à praia. No entanto a manhã estava fria e a viagem de barco foi tensa, fria e ventosa, para o único passageiro que estava de manga curta e pesava menos de 100kg… mas lá chegámos! Uma bonita vista, uma ilha que se parece exactamente com uma ilha. Água clara, areia branca. Sem lixo, sem movimento, calma. Este espaço é também uma reserva natural, o que significa que há regras ambientais e comportamentais que devemos cumprir. E ao que parece as pessoas cumprem realmente. Não encontrámos uma beata no chão! Muitos dos sítios estão vedados, mas os caminhos que existem delineados para passear são bastantes para que se conheça bem o local. E embora pareça pequeno, um dia não chega para ver tudo. E se chegar, significa que alguém vai ficar cansado. Decidimos começar pela esquerda. E quando tudo estava bem, calor, sol, uma previsão de divertimento positiva; eis que reparo que as pilhas da máquina estão a dar o tilt. Apoderou-se uma sensação de incapacidade e de revolta, sabendo que em casa estavam dezenas de pilhas e carregadores à espera de serem usados. A partir daí foi uma maratona de tentativa de poupar baterias. Ainda assim lá conseguimos uns disparos, que aqui colocamos para ilustrar o que vimos.

        Na ilha não há habitação massificada, apenas uma ou outra casa de funcionários e turismo rural parece. Um campismo e um restaurante. Não há supermercados nem bares, nem nenhum tipo de vida cosmopolita. É mesmo uma coisa “à natureza!” A água é fria claro, mas as areias são limpas. Atrás de nós há sempre a possibilidade da montanha e de vistas espectaculares sobre o oceano e sobre as outras ilhas que vizinham esta.

        Foi um dia bem passado, calmo, a passear, e a cheirar um pouco daquilo que poderá ser uma ilha exótica!
        Ao jantar andámos às voltas em Cangas durante 1h e só encontrámos um restaurante. Não sabem se da época ou da concorrência das tapas, o facto é que para se comer um prato normal não é fácil.

Segunda 25 Abril
        O dia que não estava programado. Partimos e decidimos que íamos directos a casa. E assim foi. Apenas consta aqui da lista pois foi um dia de férias e porque quem ler na diagonal vai saber que aqui os sortudos andaram a passear 4 dias! :-)

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