Piódão é uma aldeia no concelho de Arganil. É assim que muitas das descrições fáceis e académicas começam. Mas pouco importam estes dados genéricos quando nos referimos a um local onde o tempo tem outro andamento e onde fugimos por momentos do mundo que conhecemos
Passámos uns meros 2 dias no Piódão. Já lá tínhamos estado, noutras ocasiões, mas nunca como turistas assumidos com direito a pernoita no local.
Dia 1
O acesso a esta aldeia não se pode dizer que seja difícil, pois não há muito tempo o mesmo era feito por estradas de terra batida, ou com um piso medonho. Mas não é a o trajeto mais amigo de quem tem enjoos ou não gosta de curvas. Ao chegarem terão tempo para respirar ar puro e para recuperarem de uma ou outra náusea que se tenha instalado durante a rota.
O xisto é o motivo principal que encontramos em qualquer fotografia, olhar, registo mental deste lugar. Casinhas pitorescas, com portas e janelas a condizer, arrumadas como se se chegassem umas às outras evitando o frio da serra, é o cenário a encontrar. Não é uma visita para o turista dos shoppings e do torrar na praia. A aldeia tem mais escadas e degraus por habitante que qualquer outra. Serviu este tema para encetar conversa com uma moradora antiga, que, para curiosidade nossa, não se encontrava na capela a fazer as rezas da Páscoa com as restantes paroquianas do sítio (ouvíamos estas preces à porta fechada ao passar na igreja). Revela que a aldeia terá de momento uns 70 habitantes. Número que nos surpreendeu pela positiva, pois o movimento que encontrámos na rua denotava que pouca gente já por lá vivia, ou que todos fariam uma sesta muito demorada. Mas de facto, com o cair da noite e as janelas pintadas de luz, percebemos que o Piódão ainda vive! O habitante mais novo fez há pouco 1 ano, e o mais velho tem 80 e tal! Passa o autocarro à quinta feira, e o médico já não vem todos os dias. “ É a crise!” é algo que também aqui se pode dizer…
Alojámo-nos no Inatel do Piódão e reservámos toda a tarde e noite para passear por entre as casas agrupadas num canto apertado do monte. Sem termos noção, fomos seguindo as placas que diziam percurso pedestre, e quando reparámos estávamos já em alegre trekking pela serra do Açor. Em 1 hora chegámos ao segundo ex libris da região: Foz d’Égua!
Infelizmente não consigo introduzir esta localidade, nem tão pouco relatar algum facto mais curioso. Sei apenas que é um sítio lindo, que nos permite sermos insuportavelmente chatos com a fotografia, pois há tantos ângulos e detalhes a querer fotografar. Tem uma ponte pênsil, uma piscina natural, e um grupo de outras pequenas pontes e passagens que torna este lugar idílico. Mas a tarde passava a tempo apressado e não ficámos durante muito tempo, restringimo-nos ao nosso trilho. No dia seguinte voltaríamos, com aquele cenário como prioridade. Com a chegada da noite jantámos num dos restaurantes da aldeia e aproveitámos para fazer umas fotos do Piódão by night. PS: as luzes da aldeia ligam por volta das 19:30.
Dia 2
Confesso que o dia estava pouco programado. Contávamos ter demorado mais tempo no dia 1. Andámos um pouco à deriva, sabendo no entanto que o nosso destino em termos de pernoita seria Alvoco da Serra. Decidimos completar com mais minúcia a visita a Foz d’Égua. Desta feita subimos, por trilhos que estavam indicados como particulares, mas que neste sábado estavam a ser severamente violados pelo público em geral, e nós em particular. Continuamos sem perceber que história está por detrás desta terrinha, mas lá no topo tem uma espécie de uma capela maçónica ao ar livre, que se eleva a um outro recanto com um presépio de figuras de madeira esculpida, e que tem, em jeito de remate final nesta ortodoxa coleção de visões, uma águia de madeira gigante, que poisa num tubo de água em pose de guarda de toda a aldeia.
Seguimos para Alvoco da Serra. Depois de uma rápida visita pelas quelhas da aldeia, decidimos ir para a terra mais próxima com multibanco, Loriga. E foi aqui que encontrámos um trilho com o qual não contávamos e que foi bastante giro de se fazer. Com sorte, conseguem apanhar uma imagem dos vossos companheiros de viagem a caírem, pois há desníveis acentuados, que com a ajuda da caruma seca, proporciona momentos de derrapagem pedonal bastante cómicos. Também em Loriga, há uma praia fluvial, bastante arranjadinha e engraçada, com a típica água transparente e gelada da serra. Demos por terminadas as aventuras dignas de registo. Gastámos cerca de 200€ e 1mm de rasto de pneus.
Gostaria de acrescentar que a praia fluvial de Loriga foi foi também umas das finalistas das “7 Maravilhas – Praias de Portugal”, na categoria de Praias Fluviais. Portanto, acho que é um local relevante. Só uma pergunta: como calcula o desgaste ou rasto dos pneus?
ResponderEliminarola dylan!! obrigado pelo seu comentário! fica registada a informação de loriga, realmente não sabiamos. e ainda bem que a informação é boa. relativamente aos penus, a força centrifuga é F=m*omega^2*r^8 sendo que a velocidade nao era muita, mas a massa sim e o raio das curvas apertado, só posso inferir que os pneus levaram uma sova!! estou a brincar :) é só uma análise qualitativa ;) a estrada é de montanha e portanto os pneus não ficaram melhores do que o que estavam com certeza eheheh. abraço
EliminarÉ normal que não tenham encontrado muita informação sobre a aldeia de Foz d'égua uma vez que sempre passou muito despercebida até estar visível da estrada toda a zona da praia fluvial.
ResponderEliminarA aldeia de Foz D'égua surge naquela localização muito devido ao facto de ali existirem recursos abundantes como nascentes, rio, terra para cultivo. A aldeia sempre foi muito isolada, sendo que electricidade, água canalizada e estrada só surgiram já tarde, quando muitos dos habitantes da aldeia já tinham ou emigrado ou vindo para lisboa em busca de melhores condições.
Em redor da aldeia existem alguns moinhos e um antigo lagar (junto à praia fluvial) que foi fechado se não estou em erro entre 98 e 2002.
Não havia escola nem igreja, pelo que a deslocação era feita a pé por exemplo para Piódão (3.5km) sempre a subir.
No local da praia fluvial existia uma espécie de "poço" que servia para desvio de águas para rega e para lavar roupa, sendo que em 1997 o espaço foi requalificado pelas gentes da terra e surgiu a actual praia fluvial. foto: http://2.bp.blogspot.com/-S7Rp4TZEXAI/UEcNKGU_t7I/AAAAAAAABHM/HWRF6aK1EYY/s1600/Foz+d%60%C3%89gua+-+Arganil+2.jpg
As duas pontes sempre ali existiram e serviam a população local uma vez que ali era zona de confluência de vários caminhos importantes na região (ainda hoje é possível realizar alguns dos percursos nomeadamente para piódão e chãs d'égua).
Ali existiam também duas casas de arrumação agrícola e de gado, conforme foto: http://casadocastelo.nl/img/Serra/3.JPG
Recentemente um casal apaixonou-se pela zona e decidiu dar outra vida a um local já de si fantástico. Infelizmente o proprietário faleceu devido a um acidente no local ao tentar construir outra ponte suspensa na ribeira oposta.
Nesta fase era importante as entidades locais seguirem o exemplo e recuperarem o moinho junto às pontes e o lagar de azeite junto à praia fluvial.
Outra curiosidade, malta nova com raízes nas diversas aldeias constituintes do Piódão têm, digamos que, seguido o exemplo deste casal, e têm recuperado habitações no sentido de alugar por forma a proporcionar uma experiência diferente daquela que é estar instalado na pousada do inatel. A título de exemplo um dos projectos que mais apreciei foi este: https://www.facebook.com/inxisto/timeline
Por fim muitos parabéns pelo artigo, existem locais fantásticos para visitar em Portugal e este é sem dúvida um belo local de passagem bem junto à serra da estrela... basta um desvio.
olá caro viajante! excelente complemento!vou tentar incorporar ou fazer referência ao mesmo, pois tem informação que encaixa na perfeição na pintura que queríamos fazer do local. deixou-me pena saber do desfecho trágico do senhor de que falou... Creio que a sua obra ficará para sempre registada nas milhares de fotos.
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